quarta-feira, 15 de julho de 2015

Com discurso anticapitalista, Papa consegue admiração até de incrédulos como eu


Escrito em 10/07/2015



SALVADOR - Desde antes do discurso desta quinta (09/07) quando exortou os movimentos sociais e disse que o capitalismo é uma "ditadura sutil", o Papa Francisco já tinha minha admiração.

Ele é o Papa e eu sou incrédulo, mas com as posturas progressistas que ele vinha demonstrando fica difícil não concordar com ele. Nestes casos a posição religiosa pouco importa. O que importa é que ele compartilha das mesmas visões sociais que eu. Por isso ele tem minha admiração.

Quando li seu discurso na Bolívia, feita nesta quinta-feira, ele só subiu no meu conceito.

Segundo a Folha de São Paulo, ele disse: "Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?". Isso diante de algumas centenas de representantes de movimentos sociais de vários países com MST, indígenas, sem tetos e quilombolas brasileiros.

Disse ainda que se o sistema prefere o lucro à dignidade humana e à natureza, esse sistema precisa ser mudado. "Uma mudança de estruturas", disse o Papa. Trabalhadores, camponeses, as comunidades, os povos e a "Mãe Terra" não estão mais aguentando esse sistema, disse a autoridade máxima da Igreja Católica.

Outro ponto interessante: Francisco criticou a concentração dos meios de comunicação. "A concentração monopólica dos meios de comunicação social que pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural".

Os protagonistas da revolução seriam os movimento sociais. O futuro da humanidade estaria, em grande parte, nas mãos destes "semeadores da mudança", explicou o Papa.

Segundo Leonardo Boff, Francisco fazia parte da "Teologia del Pueblo", uma versão argentina da Teologia da Libertação, mas que não adere à ideia da luta de classes. Esta teologia tem preferência pelos pobres. O Papa, então, tem o esquerdismo em suas origens. Quem o conhece não surpreende-se com esse discurso.

Seu biógrafo, o jornalista argentino Sergio Rubin, por exemplo, diz que ele não mudou as visões sociais que tem desde a época que era arcebispo. Continua o mesmo, com a diferença de que está mais articulado.

A preocupação de Francisco com os pobres é o que faz alguns paranoicos pensarem que ele é comunista. No entanto, importar-se com os pobres não é sinônimo de comunismo. Isso é pensamento de guerra fria. O personagem principal do Cristianismo tinha, segundo os evangelhos, muita preocupação com os pobres e oprimidos. Seria ele um comunista?

O Papa entende que ajudar os pobres é um dever cristão. É seguir o mestre. O capitalismo prejudica os pobres, não a toa ele pede que isso mude. Não se trata aqui de pedir para colocar comunismo ou socialismo no lugar, como alguns binários pensam. Mas sim de tornar o sistema um lugar bom para todos, sem exceção, viverem. Isso é justiça social.

"A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, a tarefa é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e aos povos o que lhes pertence."

Esse trecho vai na contramão de muitos que pensam que ser cristão é ir á igreja com bíblia embaixo do braço e dar dízimo para o pastor. Ou pregar e segregar homossexuais.

O Papa Francisco faz leituras humanistas da bíblia e por isso torna o Cristianismo atraente. Ele tem o meu respeito por isso. Diante dele, mesmo sendo ateu diria o quanto eu o admiro.

Muitos cristãos - sejam católicos ou não - deveriam seguir o exemplo dele. Ser humanistas. Parar de fazer leituras literais e anacrônicas da bíblia, o que torna o Cristianismo uma religião de ódio.

Encerro o artigo com as últimas palavras do discurso do Papa Francisco: "Digamos juntos de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem velhice digna. Sigam a sua luta e, por favor, cuidem muito da Mãe Terra."

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