quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A última carta do Apóstolo Paulo que nunca chegou à nós



Paulo, servo de Jesus Cristo, à quem possa interessar.

Estou em uma cidade pacata, não sei exatamente o nome da cidade, mas é aparentemente pequena. Em poucos dias busquei conversar com cada pessoa desta cidade e fiquei positivamente surpreso em ter constatado que a grande maioria por aqui conhece o evangelho.

Porém, presenciei algo que me chocou. E que certamente chocaria o mestre.

O braço da autoridade local abateu dois ladrões. E a população supostamente evangelizada comemorou os óbitos. Mais do que isso: festejaram, aplaudiram e ergueram os cadáveres como se fossem troféus.

A população sente-se desprotegida e indignada com a impunidade, é verdade - porém, nada justifica a festa, sequer a felicidade por duas pessoas terem sido mortas. O que mais me deixa abismado, é que essas pessoas estão evangelizadas e por isso deveriam ter um pingo de amor ao próximo.

O evangelho não entrou no coração delas. Infelizmente não leram que o Senhor disse não sentir prazer na morte de quem que seja. Mas elas sentiram!

Na carta anterior, vos relatei que outra cidade evangelizada linchou um outro ladrão. Quem deveria estar vivendo o evangelho, na verdade está comendo o esterco de Moisés.

Depois dessa, perco as esperanças. Por isso vou me aposentar do evangelho. Deus que me perdoe, mas não está adiantando. Seu poder não muda ninguém. Alias já me questiono se há mesmo um deus.

Pelo visto, evangelizados não estão satisfeitos com o sangue (supostamente) redentor de Cristo. Querem mais sangue. O sangue daquele que ousar romper com a 'harmonia natural da sociedade'.

Saúdo a quem leu esta carta.

Paulo, talvez ex-servo de Jesus Cristo.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Charlie Hebdo está criticando a hipocrisia, não zombando de Aylan Kurdi

O Charlie Hebdo, um dos jornais que gosto e um dos que mais me inspira a ser jornalista, voltou ao centro das atenções no mundo. O motivo? Uma charge (foto abaixo) em que retrata o famoso menino sírio afogado, Aylan Kurdi, como um possível abusador sexual, caso sobrevivesse.

A charge causou indignação mundial, os familiares do garoto repudiaram fortemente: o pai chorou e chamou o desenho de "inumano". A Rainha da Jordânia fez um desenho "respondendo" a charge mostrando que o garoto seria tudo de bom, caso sobrevivesse e crescesse, e não um abusador, como supostamente diz o Charlie.



Não estou aqui para tacar mais pedra no Charlie Hebdo, mas sim para defendê-lo. Sim, taquem-me pedras também. Em primeiro lugar, há um erro na interpretação aí, o que muitos pensam é que o jornal está realmente dizendo que o garoto seria abusador sexual caso sobrevivesse e crescesse. Quem faz essa interpretação, geralmente, são pessoas que nunca leram esse jornal na vida e, portanto, não sabem que o Charlie Hebdo utiliza da ironia para fazer crítica social.

Há uma denúncia na charge. Os críticos não conseguem perceber isso e contextualizar dentro da atualidade européia, pois suas ânsias de "justiceiro" não permitem.


Ao meu ver, a charge faz uma crítica social denunciando a ligação forçada que fazem entre abusos sexuais e migração na Alemanha. Deveria ser óbvio dizer que o jornal não quis dizer que o garoto realmente ia ser abusador, mas que se tratava de ironia. Redatores de jornais brasileiros e até alguns internacionais aparentemente não compreendem isso e fazem manchetes tendenciosas e até desonestas.

Um monte de gente, incluindo europeus, ficou comovido com a foto do garoto refugiado morto. Tempos depois, um ataque de abusadores sexuais em Colônia na Alemanha faz esse mesmo pessoal ligar forçadamente os refugiados aos ataques, em um gesto, esse sim, de xenofobia. A sacada do Charlie Hebdo foi unir ambos os acontecimentos em uma única charge para criticar essa ligação forçada e a hipocrisia, de uma forma chocante.

Em entrevista, um leitor francês do Hebdo me confirmou que as charges geralmente vêm acompanhada de texto. Os críticos daqui descontextualizam as charges para fazer críticas desonestas. Exemplo? Aqui no Brasil, na época dos atentados ao jornal, um monte de gente tava tachando o Hebdo de "racista" por causa de uma charge descontextualizada. Enquanto isso, a mulher que foi retratada na charge supostamente racista estava defendendo o jornal na França.

A confusão é tanta que há gente dizendo que o jornal é de extrema-direita, quando na verdade o jornal é de esquerda, odiado pela extrema-direita francesa, principalmente os lepenistas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Rua dos gatos


Parece que fiquei congelado por vários anos. Há dez anos, que eu me lembre, a minha rua era completamente tomada por cachorros. No entanto, recentemente notei que agora ela está tomada por gatos. É como se houvesse uma batalha em que os cães foram derrotados e expulsos pelos gatos.

Comparo isso à Guerra do Vietnã. Vamos supor que os gatos fossem os comunistas e os cães, os soldados americanos. Mas teríamos que considerar que a rua era originalmente dos gatos e que os cães tomaram por um tempo até que os gatos recuperaram.

A batalha campal deve ter sido um espetáculo. Certamente espantou os olhos das janelas, aqueles olhos que fiscalizam e julgam para a coluna de fofoca do dia seguinte. Os ouvidos das paredes esperavam ouvir gemidos, mas tudo que escutaram foram os gritos de derrota dos perros.

A conflagração entre cães e gatos é maior que a batalha dos deuses, pois abalou as estruturas da sociedade, destruiu o status quo, cegando os olhos das janelas e deixando surdos os ouvidos das paredes. A batalha dos deuses incentiva o conformismo - ao invés de incentivar a mudança, quietam-se os mortais até o suposto julgamento.

A nova rua está deslumbrante, não que antes não fosse. Mas agora há cautela. Janelas fechadas, paredes derrubadas. Por incrível que pareça, houve uma guerra benéfica. 

Os carros de Nínive


Fico espantado com a velocidade de certos carros em algumas avenidas. Durante o dia são tão rápidos que parecem vultos. Durante a noite parecem cometas de fogo com seus faróis, iluminando tudo que vêem pela frente. Vaga-lumes futurísticos.

Tive um amigo que era fascinado por essas coisas. Acho que ele pensava como eu. Sempre quando ele sumia, o encontrávamos em algum lugar onde dava para visualizar as pistas. Ficava admirando a grande linha negra, o espaço sideral urbano com suas estrelas e cometas.

Segundo a Bíblia, o poeta Naum presenciou algo parecido em Nínive. Mas diferente de mim, ele comparou os "carros" a tochas flamejantes. Naum seria o "meu amigo fascinado" do seu tempo. Aparentemente ficou pasmo e fascinado ao presenciar os "carros" colidindo-se, destruindo-se e de forma tão violenta e furiosa.

Nem tudo é maravilha. No caso de Nínive, os carros se colidiam e se destruíam em guerra. A destruição de carros no mundo de hoje é, muitas vezes, por imprudência. São relâmpagos que chocam entre si. Cometas que se encontram no espaço do luto.

A destruição de carros nos dias de hoje não é um julgamento do Senhor dos Exércitos. Sequer há palácio para ser destruído. Também não há rio algum para se abrir. Trata-se apenas de mais um dia comum em que o imprudente é engolido pelo buraco negro do descuido. 

Acusação injusta na televisão

Era noite, meu vizinho começou a receber sucessivas mensagens em seu Whatsapp. Ao lê-las, foi tomado pelo susto. Soube que seu rosto aparece...