quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Sete décadas do Yomi na Terra



Escrito para o Recanto das Letras no dia 06/08/2015.

6 de agosto de 1945. Nobuo Miyake está em um bonde na cidade de Hiroshima, Japão. Tudo está tranquilo. De repente um clarão surge no horizonte. A luz, semioticamente, representa a esperança. Mas nesse caso, não. Representa a morte, a destruição, a dor. Miyake percebe isso a tempo e consegue sair rápido do bonde, salvando-se.

O clarão era, na verdade, obra de um garoto. Um pequeno garoto. Enviado para matar e destruir os japoneses. O pequeno garoto desfez-se no ar e tornou-se uma bola de fogo que ao chocar com o chão foi capaz de matar 160 mil japoneses.

Há quem não goste de crianças. No caso do pequeno garoto, há bons motivos para não gostar dele. Ele exterminou muita gente. Ele tornou o mito do inferno algo real. Tornou o Yomi algo real. Os japoneses chamam o mundo dos mortos de Yomi. Dizem que os mortos vão lá para apodrecer. O pequeno garoto trouxe uma versão mil vezes pior.

Os mortos do Yomi tradicional continuam a existir, mas de maneira melancólica, escura e decadente. Os mortos e vivos do Yomi atômico continuam a existir de forma dolorosa, chocante e cruel. O que trouxe a destruição foi a luz, não a escuridão. Os vivos do Yomi, os "hibakushas", ou "pessoas afetadas pela explosão" ainda foram amaldiçoados com a estigma e o preconceito durante muito tempo.

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