quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Rap é empatia



Considero Facção Central o melhor grupo de rap nacional. E considero Tupac o melhor rapper de todos os tempos. As letras fortes, porém racionais e a mistura da cultura dita erudita com a cultura popular, são algumas características que fazem ambos serem os grandes nomes do rap.

Uma pessoa sem consciência dos problemas sociais nunca vai entender esse tipo de rap. Pelo contrário, vai odiar as musicas, tacha-las de violentas e acusar os autores de fazer apologia a violência. Agora se escutar consciente dos problemas sociais irá perceber que as letras violentas e agressivas são apenas a consequência da empatia de seus compositores, uma crítica à sociedade, um compromisso em denunciar o descaso dos governos com as classes mais pobres.

Certa vez o grupo Facção Central veiculou um videoclipe intitulado "Isso aqui é uma guerra". O videoclipe foi considerado como apologia ao crime. O grupo foi indiciado. Em sua defesa, Eduardo, o vocalista e compositor da banda, disse: "O clipe não fala da Disneylândia, mas do Brasil, o país onde mais se mata com arma de fogo. Se tivesse sido feito na Suécia, poderia até causar espanto. O espantoso é alguém daqui se chocar com o seu conteúdo".

Concordo plenamente. As pessoas aparentam não ter nenhuma consciência dos problemas sociais do Brasil. Por isso têm uma visão simplista de que um simples desvio de caráter faz o bandido. Não tem conhecimento de que há toda uma estrutura ineficiente que conduz a isso. Especialmente uma certa classe que vive dentro de seus condomínios e por isso acha que o mundo se resume a aquilo ali. Nunca viram a pobreza, não são empáticos, por isso jamais entenderão como é ser um jovem angustiado da periferia.

Tanto Facção Central como Tupac escreveram grandes letras do rap porque são empáticos. Eles viveram de perto toda a violência das favelas, periferias e cortiços. Cresceram no meio da insanidade e souberam transformar todas as suas angústias e medos em arte. Eles são gênios por isso. Rap é compromisso e é empatia também.

Facção Central se acabou e Tupac foi assassinado. Mas suas heranças artísticas e críticas permanecem até hoje. Músicas também são documentos. Quem sabe no futuro um historiador não use as letras desses gênios para tentar entender a sociedade da época em que foram produzidas.

Viva Tupac! Viva Facção Central! Viva o Rap!

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